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domingo, 3 de setembro de 2017

Replanejamento Escolar

Dias 30 e 31 de agosto 
SINERGIA: Metas são atingidas quando todos convergem para um mesmo resultado.
PC: Mônica Salti





















































Replanejamento Agosto/2017 – Professor Coordenador: Mônica Salti

 

Fábula para professores e cidadãos: o conselho de classe


 
Último dia do ano letivo e a sala está cheia. A expectativa de todo mundo é que seja feito um conselho de classe rápido. Todos estão planejando os presentes e as festividades do fim do ano. A coordenadora do conselho inicia os trabalhos:

Coordenadora: Mais um ano se passou. As regras todos já sabem. O aluno que não conseguir 20 pontos nos 4 bimestres vai para a decisão do conselho. Escolheremos em conjunto se tais alunos vão passar de ano. Temos aqui uma gestão democrática.

Ouvindo tudo e a todos, havia um professor cujas palavras ficavam mais nas suas ideias do que na sua boca. Pensando sobre tudo que havia visto e ouvido, suas palavras começavam a se projetar no seu mundo das ideias.

Professor (em pensamento): Gestão democrática!? Se dizem que a esperança é a última que morre, a democracia deve ser a primeira. Não escolhemos o secretário de educação, o coordenador da nossa região e, muito menos, o nosso diretor. Agora volta o discurso da democracia no momento que temos um monte de analfabetos funcionais correndo o risco de serem reprovados. Será que a coordenadora do conselho acredita mesmo no que está fazendo?

O nosso professor ficava divagando sobre o grau de alienação da coordenadora. Ele nem pôde perceber que os seus pares estavam com muitos diários escritos a lápis. Junto com a fala da coordenadora do conselho, a conversa de pé de ouvido entre os professores girava em torno das coisas mais distintas: novas receitas sobre a ceia de Natal, manifestações de alegria em relação ao time do coração, as alianças de professores com políticos para o próximo ano. Falava-se sobre tudo, menos sobre o ano trabalhado.

Coordenadora: Temos aqui a situação do fulano de tal. Ele ficou com 18 pontos em português, 18 em Matemática, 17 em Física e 16 em História. Vamos lá então: professores das áreas citadas, o aluno merece ganhar os pontos necessários em cada uma das matérias?

Professor de Português: olha, o menino aí não quer nada com nada. Acho que é um erro passá-lo.
Professor de Matemática: concordo com a opinião da colega
Professor de Físicas: idem
Professor de História: idem

Coordenadora: Olhe professores, a nossa escola tem uma gestão democrática. A questão é que se reprovar os alunos, muito provavelmente, eles deixarão a escola. Com isso, a escola perde recursos e perde turmas. Pode ocorrer que alguns professores tenham que sair da escola. Aqui nós somos uma família, uma família democrática. A decisão é de vocês.

Tinha-se substituído o conselho de classe e inaugurado a fábrica da materialização dos pontos. Quase ninguém percebeu a sutileza do discurso da coordenadora. Dizendo-se pensar no bem estar de todos os professores, a coordenadora cumpria as ordens de passar todo mundo. Contudo, nem todos estavam encantados pelo discurso da sereia.
Professor ( em pensamento): É incrível! O autoritarismo brasileiro é de uma mistura de paternalismo com individualismo. Quem quer correr o risco de reprovar alunos e parar em Santa Isabel do Rio Preto? Ainda bem que Hitler e Mussolini não nasceram no Brasil. Será que os meus pares perceberam a estratégia do afeto autoritário? 

Professor de Português: Pensando melhor, acho que posso dar os 2 pontos pra ele...
Professor de Matemática: Não serei eu que prejudicarei algum companheiro meu, darei os pontos.
Professor de Física: A coordenadora falou muito bem. Família protege seus membros. O aluno tem os meus pontos e a senhora coordenadora tem a minha admiração.
Professor de História: Eu não darei ponto algum. O aluno em questão não possui as competências necessárias para passar de ano.

A sala dos professores foi tomada por um silêncio sepulcral. Daqueles silêncios que ocorrem quando se comete uma descortesia enorme. Os professores olhavam uns para os outros com a cara de preocupados. Sabiam que o professor de História não vestia a camisa da escola. O silêncio fora quebrado pela fala da coordenadora.

Coordenadora: Meu querido professor de História, eu sei que pode parecer que estou pedindo para passar o menino. O que eu desejo é a melhor solução pra todos: para o aluno, para a escola e para o professor. Se o senhor não concordar eu terei que chamar a decisão para o conselho de classe.
Professor de Física: Meu amigo, você sabe que os tempos são outros. Não vamos aqui ficar segurando o aluno. Ele é como um pássaro que deve aprender a voar sozinho.

Lá estava então o nosso professor de História. Ele, mais uma vez, não tinha conseguido ficar calado. Era o centro das atenções, Ele podia ouvir os comentários dos outros professores sobre a sua postura, podia sentir os olhares de reprovação, podia ver os relógios sendo olhados pelos seus colegas de profissão. Ele só sabia fazer uma coisa na vida. Quisera Deus que ele fosse bom no que fazia. E ele era.

Professor de História: Meus colegas de profissão. A nossa discussão não é se aprovamos ou não o aluno em questão. O aluno é o cara errado na hora errada. Ano que vem teremos outro e outro. O que devemos discutir é se aceitamos que o Estado forneça a pior educação possível para nossos alunos. Todos nós sabemos que ajudamos, e muito, os alunos para passarem de ano. Qual é o sentido em passarmos um aluno que não tem condições de prosseguir seus estudos? Será que ele aprenderá a voar sozinho? O que pensávamos quando conseguimos nossos diplomas de licenciatura? Passar todos sem distinção ou ensinar algo a alguém? Não estaríamos traindo o ideal da educação quando nos rebaixamos e fazemos o jogo sujo do Estado que acha que passar todo mundo é a solução?

Coordenadora: Tudo o que o senhor falou é muito bonito. Deixe-me ensinar uma coisa pra você. Eu já estou nisso há muito anos. Já vi vários idealistas como você reconhecerem que ideias não garantem a comida na mesa. Faço o que me mandam fazer. Ganho para isso. A única coisa que quero é me aposentar e jogar tudo isso para o alto. O senhor não é burro, sabe que não pode vencer o Estado. Sabe que não pode vencer o sistema educacional. Sendo assim, por que continua reclamando sobre o que é inevitável? Por que não dá os pontos do sujeito e vamos todos curtir as nossas merecidas férias?

Professor de História: Faço tudo isso porque posso, porque aguento. Não sou o que o Estado quer que eu seja. Saudações ao seu chefe e diga pra ele que nem todos têm preço.

Ao fim do conselho de classe, todos os alunos tinham sido aprovados. O professor de História tinha sido o único a voltar contra a doação dos pontos. Os termos "educação" e "enrolação" tinham se tornados a mesma coisa. A vida voltava ao normal e a educação continuava sendo aquela coisa apreciada por muitos e compreendida por poucos. 









































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